Como já aqui referimos, o livro "As Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem em Peralcovo" foi apresentado em 30 de novembro na Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos - Simões de Almeida (Tio).
Na altura o autor fez um agradecimento, que aqui transcrevemos agora:
Boa tarde a todos
Ex.ma Senhora Vice-presidente e vereadora da Cultura da
Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos, Dra. Marta Brás
Ex.mo
Senhor Albino Coelho, Tesoureiro da Junta de Freguesia de Campelo, em
representação dessa Junta
Ex.mos Senhores técnicos, trabalhadores, da Biblioteca
Municipal de Figueiró dos Vinhos, Biblioteca Simões de Almeida (tio)
Meus caros Peralcovenses – naturais, descendentes e
habitantes de Peralcovo – aqui presentes
Meus caros amigos das “outras latitudes” que tiveram a
amabilidade de se deslocar aqui hoje
Minhas senhoras e meus senhores
As minhas primeiras palavras são de agradecimento à
Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos por ter acolhido este projeto e o ter
levado até aqui, à sua edição em livro, num trabalho cuidado e de apresentação
muito feliz.
Depois, há que referir que tal também não seria possível
sem a inestimável colaboração, apoio e carinho das técnicas da biblioteca de
Figueiró dos Vinhos Célia Lopes e Sónia Henriques.
Na realidade a Célia e a Sónia foram as grandes
impulsionadoras, produtoras – e até em certa medida coautoras – desta
publicação. Quando ainda em 2022 a Célia me contactou para saber elementos
sobre as previstas festas de Peralcovo, estávamos certamente muito longe deste
resultado, mas foi aí o ponto de partida deste caminho que hoje termina aqui.
Um
agradecimento para todos os outros amigos que colaboraram na publicação – o
Henrique Nunes, a Joana Carvalho Reis, a Paula Reis Lisboa e o Luis Lisboa, a Fátima
Reis, o Joaquim Saloio e a Ana Esteves, o José Adelino Reis, o José da Costa
Reis, o Carlos Manuel Martins, o João Carlos Martins, a Lúcia Vargas, o Joaquim Alves,
a Maria José Alves e o Rui Alves. E aos amigos que colaboraram nas festas de
2023, que nos abstemos de referenciar aqui, mas que são identificados no livro.
Um agradecimento especial ao Rafael Almeida, pelo excelente registo que fez das festas de Peralcovo de 2023, num extraordinário vídeo integrado neste projeto da biblioteca de Figueiró, que contemplou no ano passado o registo fílmico de cinco festividades do concelho e este ano mais quatro filmes.
Um parêntesis para referir que o Rafael é um jovem
cineasta natural de Figueiró dos Vinhos premiado, nomeadamente, com o prémio “Sophia
Estudante” da Academia Portuguesa de Cinema; e ainda um parêntesis dentro deste
parêntesis para felicitar o Rafael pela defesa militante do viver em Figueiró,
no interior desertificado, manifestado, por exemplo, numa excelente entrevista
que o Rafael deu à RTP1 em junho deste ano.
Este interior onde é muito difícil preservar, manter, uma
aldeia com apenas três habitantes. Que enfrentam os desvarios da natureza – ou
mais do homem? –, seja o fogo, onde se encurralam pela inexistência de uma
alternativa de evacuação (a aldeia só tem um acesso), sejam as tempestades cada
vez mais frequentes, quando os habitantes e visitantes têm de cortar as árvores
caídas na estrada para poderem sair do lugar – obrigado Joaquim Alves pela recomendação
para ter uma zagaia no carro sempre que vá a Peralcovo.
Seria fácil culpar o poder local, a Câmara Municipal, a
Junta de Freguesia, por essas desditas, mas não será justo – na realidade
entendemos bem como não conseguem atender aos problemas de todos estes sítios
pela falta de meios; sítios estes e problemas que o poder central desconhece em
absoluto, ou que, desculpem, também não se esforça – ou mesmo não tem interesse
– em conhecer.
O projeto “Memórias de Figueiró”, onde se integra a publicação que hoje aqui apresentamos é um exemplo da riqueza que há fora das Avenidas de Roma e dos Terreiros do Paço deste magnífico país…
O interior que o Rafael defende com “unhas e dentes”, tão desprezado, tão abandonado pelos “poderes centrais” do país, tem destas verdadeiras preciosidades. Obrigado Célia, obrigado Sónia, obrigado Rafael, obrigado eleitos, dirigentes e técnicos do Município de Figueiró dos Vinhos!
Quanto à publicação em si, uma nota inicial para referir
ainda os grandes contributos da biblioteca, através das suas técnicas, que
reformataram positivamente a publicação inicial, um e-book, para esta excelente
configuração de livro. Essa adequação considerou ajustamentos de estrutura,
adaptações de texto e até a realização de novas fotografias pela Teresa
Trancoso e pelo Rui Alves a quem agradecemos o primoroso trabalho; e obviamente
que agradecemos também à Ana Luísa Coelho o original e artístico trabalho de
conceção gráfica e paginação.
Sobre as motivações, os objetivos, a história desta
publicação, vou remeter-vos para o livro, não queria ser repetitivo com estes
aspetos que estão já lá referidos.
Mas não posso deixar de falar um pouquinho sobre a minha
relação com Peralcovo.
Ela é desde logo natural dado ser filho, neto e bisneto de
gente de Peralcovo, das famílias Martins e Reis.
Não posso relatar grandes memórias da minha infância, na
realidade nessa altura não vinha aqui com grande regularidade; a distância à
terra onde nasci e vivia, e vivo – perto de Sintra –, era longa, os caminhos
sinuosos e os recursos para as difíceis viagens escassos. E era preciso dividir
as presenças entre os dois progenitores, com algum desequilíbrio a favor da ascendência
paterna. Mas recordo alguns dos moradores – a Palmira, o Abílio e a Fernanda, a
Natalina e a mãe, a tia Maria de Alge e o Cavadas…
Na adolescência
também não foi pródiga a minha vinda a Peralcovo, esse período coincidiu com as
grandes transformações do país, a revolução do 25 de abril, o chamado PREC, e
aí as prioridades foram mesmo participar nesse “sonho lindo” de que
falava José Mário Branco…
Depois vieram os anos 80 e a grande desertificação do
interior do país. A aldeia ficou quase deserta, a minha avó Benedita foi também
para Lisboa, menos um motivo para voltar à aldeia. Julgo que ainda nessa década
ou na seguinte Peralcovo acabaria por ficar mesmo deserta por alguns anos, até
que o Joaquim Alves, a Maria José e os filhos “repovoaram” a povoação.
Foi já nos anos 90, depois de constituir família, que a
nossa presença em Peralcovo se tornou mais assídua. O impulso de preservar
memória dos familiares, da minha avó entretanto falecida, e de conservar o
património da família começou a impor-se e as visitas à aldeia tornaram-se mais
frequentes.
Desse período recordo com saudade as viagens com o meu
tio e padrinho José Martins e as noites de boa conversa que passávamos em
Campelo na loja do José Casimiro…
Mas não me irei alongar mais, só duas ou três notas
finais, o resto, como disse, está no livro – se vos revelar isso já não o leem…
A primeira nota vai para a minha família mais próxima,
para o meu falecido pai – que estaria hoje tão orgulhoso. Foi sem dúvida
marcante o carinho que, apesar de uma vida algo “madrasta” (pela dureza, deixar
a mãe, migrar aos 11 anos não há-de ter sido nada fácil), o carinho que ele me
transmitiu sobre Peralcovo, materializado, nomeadamente, através de alguns
documentos que guardava religiosamente.
Depois, ter descoberto que muitos peralcovenses guardavam
igual carinho pela terra que a si ou aos seus ascendentes, os viu nascer, e que
também cuidadosamente guardavam o património/ objetos da capela, documentos,
fotografias, “santinhos”. Muito desse património foi disponibilizado por esses
peralcovenses e ficou agora registado neste livro – com o risco de me esquecer injustamente
de alguém evoco aqui o Luis Martins e a Laurinda, o Carlos Martins, o Luís
Hélder, o Carlos Manuel Martins, o João Carlos Martins, a Gracinda, a Fátima
Reis, o José da Costa Reis, o José Adelino, o Joaquim Alves e a Maria José e as respetivas famílias.
E a Célia Antunes, uma espécie de guardiã, sempre disponível para ajudar no que
for preciso.
Mais uma nota também para a minha família peralcovense
mais alargada com a qual mantenho agora, com grande felicidade, um
relacionamento estreito e muito afetuoso. Obrigado Fátima, Quim, Paula e Luís,
obrigado por todos os estímulos e afeto.
E a última nota para os vindouros, é a eles que cabe
preservar, continuar a manter a memória dos que “nasceram, viveram,
labutaram, sonharam, sofreram na aldeia de Peralcovo”
A memória dos antepassados que sofreram na aldeia, mas que
também sonharam. Com vidas menos sofridas, com amanhãs mais luminosos. Mas
também com alegrias, com momentos maravilhosos que aí viveram em comunhão com a
magia do lugar.
E essa magia de Peralcovo continua viva. É a luz das suas
manhãs, da bruma matinal que enche o vale de Peralcovo. As cores que rodeiam o
casario, autêntico presépio que trepa pela serra. As “leiras”, os
socalcos escavados, com muito suor, na montanha onde assenta a povoação (que
podem ombrear com os de Sistelo no Gerês). Casario sem dúvida medieval, com as
casas se cozendo, quase que entrando umas nas outras, os fornos ocupando o
espaço do vizinho. As ruas, se assim se podem chamar, labirínticas, urbanismo
fechado e defensivo contra intrusos, os lobos ou o até o frio, a neve. A água
da sua fonte – a melhor água do concelho, como alardeavam os cartazes das
festas. Mas também a água que canta quando chove pelos três riachos, o da
entrada da povoação com aquelas magníficas hortênsias, o do meio sob o pontão
junto à casa do Luís Martins, o da Pontinha ao lado da minha casa, da casa da
avó Benedita. A rica mancha de castanheiros, carvalhos e sobreiros que ladeia
Peralcovo. A clareira onde se fazia o carvão. Os currais que entram na
povoação, mas, sobretudo, o seu grande e bem ordenado conjunto que se espalha pela
Lomba. O bramido dos majestosos veados que visitam amiúde a aldeia.
Termino dizendo que me sinto muito feliz por os meus
filhos Joana e João terem apreço por essa terra, aí vindo com grande
regularidade e tendo a convicção que o meu neto Manuel, o meu primeiro neto –
com o nome do bisavô de Peralcovo –, que ainda não conhece a terra, pois nasceu
no início deste mês, continue a guardar e honrar essas memórias.
Muito obrigado!
1 comentário:
Li e agradeço tudo o que descreve. Um Grande Abraço
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