domingo, 4 de maio de 2025

Apresentação do livro "As Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, Peralcovo" - agradecimento

Como já aqui referimos, o livro "As Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem em Peralcovo" foi apresentado em 30 de novembro na Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos - Simões de Almeida (Tio). 

Na altura o autor fez um agradecimento, que aqui transcrevemos agora:


Boa tarde a todos 

Ex.ma Senhora Vice-presidente e vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos, Dra. Marta Brás 

Ex.mo Senhor Albino Coelho, Tesoureiro da Junta de Freguesia de Campelo, em representação dessa Junta

Ex.mos Senhores técnicos, trabalhadores, da Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos, Biblioteca Simões de Almeida (tio) 

Meus caros Peralcovenses – naturais, descendentes e habitantes de Peralcovo – aqui presentes 

Meus caros amigos das “outras latitudes” que tiveram a amabilidade de se deslocar aqui hoje 

Minhas senhoras e meus senhores 



As minhas primeiras palavras são de agradecimento à Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos por ter acolhido este projeto e o ter levado até aqui, à sua edição em livro, num trabalho cuidado e de apresentação muito feliz.

Depois, há que referir que tal também não seria possível sem a inestimável colaboração, apoio e carinho das técnicas da biblioteca de Figueiró dos Vinhos Célia Lopes e Sónia Henriques. 

Na realidade a Célia e a Sónia foram as grandes impulsionadoras, produtoras – e até em certa medida coautoras – desta publicação. Quando ainda em 2022 a Célia me contactou para saber elementos sobre as previstas festas de Peralcovo, estávamos certamente muito longe deste resultado, mas foi aí o ponto de partida deste caminho que hoje termina aqui. 

Um agradecimento para todos os outros amigos que colaboraram na publicação – o Henrique Nunes, a Joana Carvalho Reis, a Paula Reis Lisboa e o Luis Lisboa, a Fátima Reis, o Joaquim Saloio e a Ana Esteves, o José Adelino Reis, o José da Costa Reis, o Carlos Manuel Martins, o João Carlos Martins, a Lúcia Vargas, o Joaquim Alves, a Maria José Alves e o Rui Alves. E aos amigos que colaboraram nas festas de 2023, que nos abstemos de referenciar aqui, mas que são identificados no livro.

Um agradecimento especial ao Rafael Almeida, pelo excelente registo que fez das festas de Peralcovo de 2023, num extraordinário vídeo integrado neste projeto da biblioteca de Figueiró, que contemplou no ano passado o registo fílmico de cinco festividades do concelho e este ano mais quatro filmes.

Um parêntesis para referir que o Rafael é um jovem cineasta natural de Figueiró dos Vinhos premiado, nomeadamente, com o prémio “Sophia Estudante” da Academia Portuguesa de Cinema; e ainda um parêntesis dentro deste parêntesis para felicitar o Rafael pela defesa militante do viver em Figueiró, no interior desertificado, manifestado, por exemplo, numa excelente entrevista que o Rafael deu à RTP1 em junho deste ano. 

Este interior onde é muito difícil preservar, manter, uma aldeia com apenas três habitantes. Que enfrentam os desvarios da natureza – ou mais do homem? –, seja o fogo, onde se encurralam pela inexistência de uma alternativa de evacuação (a aldeia só tem um acesso), sejam as tempestades cada vez mais frequentes, quando os habitantes e visitantes têm de cortar as árvores caídas na estrada para poderem sair do lugar – obrigado Joaquim Alves pela recomendação para ter uma zagaia no carro sempre que vá a Peralcovo.

Seria fácil culpar o poder local, a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, por essas desditas, mas não será justo – na realidade entendemos bem como não conseguem atender aos problemas de todos estes sítios pela falta de meios; sítios estes e problemas que o poder central desconhece em absoluto, ou que, desculpem, também não se esforça – ou mesmo não tem interesse – em conhecer.

O projeto “Memórias de Figueiró”, onde se integra a publicação que hoje aqui apresentamos é um exemplo da riqueza que há fora das Avenidas de Roma e dos Terreiros do Paço deste magnífico país… 

O interior que o Rafael defende com “unhas e dentes”, tão desprezado, tão abandonado pelos “poderes centrais” do país, tem destas verdadeiras preciosidades. Obrigado Célia, obrigado Sónia, obrigado Rafael, obrigado eleitos, dirigentes e técnicos do Município de Figueiró dos Vinhos! 



Quanto à publicação em si, uma nota inicial para referir ainda os grandes contributos da biblioteca, através das suas técnicas, que reformataram positivamente a publicação inicial, um e-book, para esta excelente configuração de livro. Essa adequação considerou ajustamentos de estrutura, adaptações de texto e até a realização de novas fotografias pela Teresa Trancoso e pelo Rui Alves a quem agradecemos o primoroso trabalho; e obviamente que agradecemos também à Ana Luísa Coelho o original e artístico trabalho de conceção gráfica e paginação.

Sobre as motivações, os objetivos, a história desta publicação, vou remeter-vos para o livro, não queria ser repetitivo com estes aspetos que estão já lá referidos.

Mas não posso deixar de falar um pouquinho sobre a minha relação com Peralcovo.

Ela é desde logo natural dado ser filho, neto e bisneto de gente de Peralcovo, das famílias Martins e Reis.

Não posso relatar grandes memórias da minha infância, na realidade nessa altura não vinha aqui com grande regularidade; a distância à terra onde nasci e vivia, e vivo – perto de Sintra –, era longa, os caminhos sinuosos e os recursos para as difíceis viagens escassos. E era preciso dividir as presenças entre os dois progenitores, com algum desequilíbrio a favor da ascendência paterna. Mas recordo alguns dos moradores – a Palmira, o Abílio e a Fernanda, a Natalina e a mãe, a tia Maria de Alge e o Cavadas…

 Na adolescência também não foi pródiga a minha vinda a Peralcovo, esse período coincidiu com as grandes transformações do país, a revolução do 25 de abril, o chamado PREC, e aí as prioridades foram mesmo participar nesse “sonho lindo” de que falava José Mário Branco…

Depois vieram os anos 80 e a grande desertificação do interior do país. A aldeia ficou quase deserta, a minha avó Benedita foi também para Lisboa, menos um motivo para voltar à aldeia. Julgo que ainda nessa década ou na seguinte Peralcovo acabaria por ficar mesmo deserta por alguns anos, até que o Joaquim Alves, a Maria José e os filhos “repovoaram” a povoação.

Foi já nos anos 90, depois de constituir família, que a nossa presença em Peralcovo se tornou mais assídua. O impulso de preservar memória dos familiares, da minha avó entretanto falecida, e de conservar o património da família começou a impor-se e as visitas à aldeia tornaram-se mais frequentes.

Desse período recordo com saudade as viagens com o meu tio e padrinho José Martins e as noites de boa conversa que passávamos em Campelo na loja do José Casimiro…

 


Mas não me irei alongar mais, só duas ou três notas finais, o resto, como disse, está no livro – se vos revelar isso já não o leem… 

A primeira nota vai para a minha família mais próxima, para o meu falecido pai – que estaria hoje tão orgulhoso. Foi sem dúvida marcante o carinho que, apesar de uma vida algo “madrasta” (pela dureza, deixar a mãe, migrar aos 11 anos não há-de ter sido nada fácil), o carinho que ele me transmitiu sobre Peralcovo, materializado, nomeadamente, através de alguns documentos que guardava religiosamente. 

Depois, ter descoberto que muitos peralcovenses guardavam igual carinho pela terra que a si ou aos seus ascendentes, os viu nascer, e que também cuidadosamente guardavam o património/ objetos da capela, documentos, fotografias, “santinhos”. Muito desse património foi disponibilizado por esses peralcovenses e ficou agora registado neste livro – com o risco de me esquecer injustamente de alguém evoco aqui o Luis Martins e a Laurinda, o Carlos Martins, o Luís Hélder, o Carlos Manuel Martins, o João Carlos Martins, a Gracinda, a Fátima Reis, o José da Costa Reis, o José Adelino, o Joaquim Alves e a Maria José e as respetivas famílias. E a Célia Antunes, uma espécie de guardiã, sempre disponível para ajudar no que for preciso.

 Mais uma nota também para a minha família peralcovense mais alargada com a qual mantenho agora, com grande felicidade, um relacionamento estreito e muito afetuoso. Obrigado Fátima, Quim, Paula e Luís, obrigado por todos os estímulos e afeto. 

E a última nota para os vindouros, é a eles que cabe preservar, continuar a manter a memória dos que “nasceram, viveram, labutaram, sonharam, sofreram na aldeia de Peralcovo

A memória dos antepassados que sofreram na aldeia, mas que também sonharam. Com vidas menos sofridas, com amanhãs mais luminosos. Mas também com alegrias, com momentos maravilhosos que aí viveram em comunhão com a magia do lugar.

E essa magia de Peralcovo continua viva. É a luz das suas manhãs, da bruma matinal que enche o vale de Peralcovo. As cores que rodeiam o casario, autêntico presépio que trepa pela serra. As “leiras”, os socalcos escavados, com muito suor, na montanha onde assenta a povoação (que podem ombrear com os de Sistelo no Gerês). Casario sem dúvida medieval, com as casas se cozendo, quase que entrando umas nas outras, os fornos ocupando o espaço do vizinho. As ruas, se assim se podem chamar, labirínticas, urbanismo fechado e defensivo contra intrusos, os lobos ou o até o frio, a neve. A água da sua fonte – a melhor água do concelho, como alardeavam os cartazes das festas. Mas também a água que canta quando chove pelos três riachos, o da entrada da povoação com aquelas magníficas hortênsias, o do meio sob o pontão junto à casa do Luís Martins, o da Pontinha ao lado da minha casa, da casa da avó Benedita. A rica mancha de castanheiros, carvalhos e sobreiros que ladeia Peralcovo. A clareira onde se fazia o carvão. Os currais que entram na povoação, mas, sobretudo, o seu grande e bem ordenado conjunto que se espalha pela Lomba. O bramido dos majestosos veados que visitam amiúde a aldeia.


Termino dizendo que me sinto muito feliz por os meus filhos Joana e João terem apreço por essa terra, aí vindo com grande regularidade e tendo a convicção que o meu neto Manuel, o meu primeiro neto – com o nome do bisavô de Peralcovo –, que ainda não conhece a terra, pois nasceu no início deste mês, continue a guardar e honrar essas memórias. 

 

Muito obrigado!




1 comentário:

Joaquim Alves disse...

Li e agradeço tudo o que descreve. Um Grande Abraço