domingo, 31 de julho de 2016

Figueiró e Castanheira no "Guia de Portugal" (1927)

O "Guia de Portugal" foi porventura o primeiro guia turístico português.

O primeiro volume do Guia foi editado em 1924. O guia tem 8 volumes, sendo os concelhos de Figueiró dos Vinhos e de Castanheira de Pera apresentados no volume II, que abrange a Estremadura, Alentejo e Algarve (Figueiró e Castanheira integravam então a Estremadura).

Francisco Seixas da Costa no blogue #Duas ou Três Coisas" descreve pormenorizadamente a história dos vários volumes do Guia (http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2009/08/guia-de-portugal.html):

O primeiro volume do "Guia de Portugal" foi lançado em 1924 e dedicou-se ao tema "Generalidades - Lisboa e Arredores". Foi seu organizador e principal autor Raul Proença e conta com preciosos textos de grandes figuras da cultura portuguesa como Aquilino Ribeiro (Etnografia), António Sérgio (História), Reinaldo dos Santos (Arte), para além imensos textos do próprio Raul Proença e colaboração vária de Matos Sequeira, Afonso Lopes Vieira, Jaime Cortesão, José de Figueiredo, Teixeira de Pascoaes, Júlio Dantas, Pina de Morais, Orlando Ribeiro, Raul Lino, etc. É um volume riquíssimo, praticamente sem par. As descrições de Lisboa e percursos nos arredores, de uma região onde hoje sobram apenas os monumentos e escassos excertos de paisagens, são um imenso prazer de leitura. A capa de Raul Lino é, em si mesma, de uma bela simplicidade.
O 2º volume publicado, ainda pela Biblioteca Nacional, sobre "Estremadura, Alentejo, Algarve", foi impresso no final de 1927 - isto é, já sob ditadura militar. Nele estão alguns dos nomes do volume anterior e, também, outras figuras como Brito Camacho, Carlos Selvagem, Hernâni Cidade, Rodrigues Miguéis, Sarmento de Beires, Teixeira de Sampaio, etc. O prefácio é assinado por Raul Proença, agora já na qualidade de "ex-chefe dos serviços técnicos da Biblioteca Nacional". O regime tinha-o, entretanto, demitido das funções que ocupava desde 1911...
O prefácio que Proença escreve para este 2º volume revela que o Guia não quer ser um "bonzo doméstico", para o "fútil destino de ornamentar as estantes e os móveis das saletas". Quere-o "um companheiro de viagem (...), pronto a ser consultado a cada momento", pelo que necessita de ser "um livro portátil, que se pudesse folhear a todo o momento". Do texto transparece já, todavia, uma amargura profunda em Proença, sintoma do seu destino político e pessoal trágico, depois de ter combatido com armas o novo regime, que o levaria ao exílio, aqui em Paris, onde viveu alguns anos em condições de enorme dificuldade, em St. Germain-en-Auxerrois.
Só em 1944 é que sai o 3º volume, sobre "Beira Litoral, Beira Baixa e Beira Alta", ainda sob a chancela da Biblioteca Nacional, assinalando-se, no prefácio, que a responsabilidade da edição recai agora sobre um "núcleo de amigos" de Raul Proença, depois da morte deste, em 1941. O nome de Sant'anna Dionísio aparece agora como o novo coordenador do projecto e seu principal impulsionador, e assim será até ao final da edição completa, nos anos 70. Note-se que, neste volume, vão aparecer ainda textos de Alberto de Oliveira, Egas Moniz, Eugénio de Castro, Ferreira de Castro, João de Barros, Raúl Brandão, Rodrigues Lapa, Tomaz da Fonseca ou Vitorino Nemésio.
Uma nova interrupção faz com que, só em 1964 e 1965, saiam os dois volumes relativos a "Entre Douro e Minho", o 1º sobre o Douro Litoral e o 2º sobre o Minho, com Sant'anna Dionísio como impulsionador, mas agora sob a responsabilidade editorial da Fundação Calouste Gulbenkian. A qualidade dos colaboradores, há que dizê-lo, baixa drasticamente nestes volumes. Finalmente, em 1969 e 1970, são editados os últimos volumes, sobre "Trás-os-Montes e Alto Douro", um sobre "Vila Real, Chaves e Barroso" e outro sobre "Lamego, Bragança e Miranda". Neste caso, há novos colaboradores conhecidos: João Sarmento Pimentel, Jorge Dias, Miguel Torga, Ribeiro de Carvalho, etc.
A Fundação Gulbenkian reeditou, desde então, todos os volumes do "Guia de Portugal". Vale a pena tê-los, porque é uma interessante leitura de um outro Portugal (embora sem a Madeira e os Açores) que aí ficou registada.
Reproduzimos as páginas do "Guia de Portugal" referentes a Castanheira de Pera e a Figueiró dos Vinhos:















Deve ainda referir-se que alguns dos volumes do "Guia de Portugal" foram recentemente editados em formato digital (ver http://www.rtp.pt/noticias/cultura/gulbenkian-inaugura-edicao-digital-com-os-cinco-volumes-do-guia-de-portugal_n812448).

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