sábado, 11 de junho de 2011

Castanheira de Pera - um castanheirense no Algueirão, Sintra

Publicamos agora alguns elementos sobre um castanheirense que imigrou para os arredores de Lisboa e aí se afirmou como um "homem bom", exemplo dos povos desta região. Estes elementos são baseados numa notícia antiga do jornal "O Castanheirense" (de 2004),


Figuras do Algueirão - Joaquim Rodrigues


Uma das figuras proeminentes do Algueirão contemporâneo foi sem dúvida Joaquim Rodrigues(N. Fontão, Castanheira de Pera, 14.Mai.1913-F. Algueirão, 24.Fev.1986).

Homem bom, solidário, dado à comunidade muito mais que ao seu bem-estar pessoal, desempenhou, entre muitas outras missões, o papel de "regedor" da freguesia.

Socorremo-nos de um artigo publicado no jornal da sua terra - Castanheira de Pera -, "O Castanheirense" n.º 1765, de 30-09-2004, para traçar o retrato de "Uma vida a favor da comunidade":

Joaquim Rodrigues:
Uma vida de trabalho a favor da comunidade
Sabia que no concelho de Sintra, em Algueirão-Velho, existe um largo a que a toponímia sintrense atribuiu o nome de um castanheirense? E que nesse largo, a população ergueu um busto em memória deste nosso conterrâneo?
Leia uma história, que para além de nos encher de orgulho, como castanheirenses, é um exemplo de humanidade e dedicação ao próximo. Desinteressadamente, apenas pela sua enorme necessidade de ser solidário.
A sua maior dádiva à Sociedade não foi em espécies ou dinheiro, embora tivesse despendido algum, mas sim em disponibilidade e trabalho em prol da comunidade, sendo por estes predicados que ficará para sempre ligado à história desta localidade sintrense.

Nasceu no Fontão, em 14 de Maio de 1913. Como tantos castanheirenses de então, as opções de futuro na terra natal eram poucas: indústria de lanifícios ou lavoura. Ambas tinham horizontes de pobreza. Cedo os seus pais ponderaram em o mandar para a zona de Sintra, para o tio Joaquim, que ali tinha um pequeno comércio.
E com apenas 8 anos e meio, o nosso Joaquim chegou à Várzea de Sintra, trazendo calçados os tamancos, cuja chapa amarela tinha areado durante as longas horas de viagem, até brilhar como ouro!
Ainda menino, aos 10 anos, emprega-se na firma José Lopes Miranda, em Algueirão Velho, tendo como patrões Crispim e Artur Lopes Miranda, e nesta casa comercial fica até morrer, durante 63 anos. Durante estas mais de seis décadas, nunca gozou férias, e as únicas folgas que teve era para se deslocar à terra (Fontão, Castanheira de Pera), por ocasião de algum casamento, baptizado ou funeral de familiares.
Foi casado com Maria das Dores Gomes Rodrigues, tendo da união do casal nascido dois filhos, Maria Estefânia e José António.
O seu espírito solidário leva-o, desde que a idade o permitiu, a colaborar activamente em instituições onde pudesse ser útil. Teve como parceira prioritária a Sociedade Recreativa e Desportiva do Algueirão, onde foi tesoureiro durante 40 anos, mas também as Casas do Povo da região, onde era feita a assistência médica à população, chegando a ser responsável, simultaneamente, pelas Casa do Povo de S. Pedro de Penaferrim (S. Pedro de Sintra), e de Santa Maria e São Miguel de Sintra. Fez também parte da Junta de Freguesia de Algueirão. Em nenhuma destas instituições ocupou lugares de presidência ou remunerados, e todo o seu trabalho era desenvolvido em horário pós laboral: depois de longos dias de trabalho, e aos domingos.
Mas foi na Sociedade Recreativa e Desportiva do Algueirão que a sua actividade mais se fez notar. Apaixonado pela música, fundou e impulsionou grupos musicais e corais, sendo ainda fundador do Rancho Folclórico As Mondadeiras do Algueirão. Foi também por sua iniciativa que foi elaborado o hino S.D.R.A., composto pelo músico e seu amigo, Azor.


Joaquim Rodrigues segurando, com o meu pai,
a bandeira dos Recreios Desportivos do Algueirão

Muitos trabalhadores, na sua maioria vindos do Alentejo, que soubessem tocar um instrumento, arranjavam emprego por seu intermédio, oferecendo-lhes por vezes e quando as distâncias assim o impunham, uma bicicleta. Também alguns castanheirenses que procuraram aquelas paragens para se radicarem, tiveram em Joaquim Rodrigues o amigo que abriu portas para que encontrassem uma situação estável.
Ainda na S.R.D.A. instituiu a sopa dos pobres, que durante anos serviu 15 refeições por dia.
Mas a sua obra maior foi o Centro de Assistência Médica, que ainda funciona em anexo à associação. Corriam os anos sessenta, e Joaquim Rodrigues apercebia-se que uma das graves lacunas da terra onde morava era a deficiente assistência médica prestada às populações. Esta advinha principalmente da falta de instalações capazes para o efeito. Idealizou então construir uma casa capaz de albergar um consultório médico onde a população pudesse ser atendida. Com a colaboração da instituição e da população do Algueirão, com um dia de trabalho de um, um saco de cimento ou um punhado de tijolos e telhas de outro, e principalmente com muito trabalho seu e de seu filho, José António, a obra passou de sonho a realidade.
Contratado um médico o Dr. Molarinho, por 2.500$00 mensais, o Centro passou a atender gratuitamente, toda a gente que ali se deslocasse, duas vezes por semana. Ainda nos dias de hoje, o Dr. Molarinho, actualmente reformado, continua a prestar serviço, agora voluntário e gratuito, no Centro, que entretanto mudou o nome para Centro de Assistência Social do Algueirão. Ainda lhe sobrou tempo para promover a construção do chafariz e lavadouros públicos da localidade.
Como homem intimamente ligado à comunidade, era com frequência solicitado para colaborar com a Comunicação Social, tendo sido correspondente do Diário de Notícias, O Século, Diário Ilustrado, e também do nosso jornal, O Castanheirense.
Na memória de quem o conheceu fica, para além da imagem de homem empreendedor, a de homem disponível. Para todas as situações em que pudesse ser útil. Desde a organização da procissão da Nossa Senhora das Mercês, de que era titular do bastão, que recebeu após a morte do antigo titular, o seu patrão Crispim Lopes Miranda, ou das Festas de São José, até à disponibilidade de ir a Sintra ou a Lisboa tratar de algum assunto de um vizinho, conhecido, ou apenas de alguém que lho solicitou, sabendo que Joaquim Rodrigues estava sempre disposto a ajudar.
A sua morte, em 24 de Fevereiro de 1986, causou grande consternação no concelho de Sintra, e no Algueirão em particular. O seu funeral, que encheu a Igreja, seguiu a pé para o Cemitério.
Três anos mais tarde, por deliberação camarária de 8 de Março de 1989, o Município de Sintra distinguia-o com a Medalha de Mérito Municipal – Grau 1- Ouro, cerimónia que decorreu nos Paços do Concelho de Sintra, em 17 de Junho do mesmo ano.

Notícia do falecimento de Joaquim Rodrigues ("Jornal de Sintra")



No dia 1 de Dezembro do ano passado, o povo do Algueirão-Velho prestava-lhe uma justa homenagem, inaugurando o monumento erguido em sua homenagem, no largo que tem o seu nome, e onde fica a associação a que dedicou grande parte da sua vida.

António Carreira



Busto e Largo Joaquim Rodrigues


Agradecimento:
O Castanheirense agradece a José António Rodrigues, filho de Joaquim Rodrigues, as informações e as imagens que tornaram possível este artigo, bem como a Aldemiro Simões, que nos alertou para a premência de lhe ser prestada esta homenagem.




Notícia no jornal "Boletim 921" n.º 7. Ago.1984


Notas: a colectividade referida como "Sociedade Recreativa e Desportiva do Algueirão" trata-se dos RDA - Recreios Desportivos do Algueirão. As fotografias e outras imagens apresentadas neste post são da autoria do nosso blogue.

1 comentário:

Manuel Vassoureiro disse...

Este indivíduo emprestava dinheiro a pessoas que tivessem propriedades e se encontrassem em dificuldades temporárias e depois, se não conseguissem cumprir os prazos que lhes estabelecera, ficava-lhes com as propriedades. Aprendeu isto com o patrão dele, o Crispim, que vendia fiado às pessoas necessitadas e depois, se não conseguissem pagar, ficava-lhes também com as propriedades.